O desenvolvimento adequado e eficaz da preparação para seleções devem contar com a preocupação e mobilização do candidato em torno de três dimensões fundamentais, quais sejam: planejamento, aprendizagem e gestão emocional.

E não se pode afirmar que uma dimensão tenha relevância maior que a outra, ante a necessidade de compreensão sistêmica do processo de busca da aprovação. Sem planejamento, o candidato não tem rumo a seguir; sem aprendizagem, não há apropriação intelectual das informações e conhecimentos passíveis de cobrança pelo examinador no momento da prova; sem gestão emocional, o candidato terá dificuldades para se manter empenhado na sua trajetória de implementação de esforços, principalmente nos naturais momentos de fragilidades e dificuldades.

Mas apesar da necessidade da compreensão sistêmica, o que exige o cuidado com todas as dimensões, muitos equívocos começam com a falta ou a inadequada estruturação do planejamento. A adequada planificação dos estudos é determinante para garantir ao candidato o desenvolvimento do processo de preparação para o concurso público de forma estratégica, eficiente, racional, sistemática, cartesiana e metódica, atributos e características que convertem para a postura da preparação de alto rendimento.

Neste sentido, inegavelmente, o programa tem um papel fundamental na planificação dos estudos.

Conforme o modelo de planejamento que venho propondo, a primeira fase da preparação deve contar com a definição quatro pilares, sendo dois correspondentes ao planejamento estratégico e os outros dois ao planejamento tático. Segundo esclarecem os Professores Adalberto Fishmann e Martinho Isnard, “Planejamento Estratégico é uma técnica administrativa que estabelece o propósito de direção…Planejamento Tático é um planejamento predominantemente quantitativo, abrangendo decisões administrativas e operações e visando à eficiência…”(Planejamento estratégico na prática.  São Paulo: Atlas, 1991, p. 25).

Portanto, o planejamento estratégico envolve aspectos decisórios fundamentais a serem estabelecidos pelo candidato, os quais correspondem ao objetivo, em termos de vagas ou cargos almejados, e programa. Já o planejamento tático consiste nos meios eleitos para a implementação do planejamento estratégico. Um dos elementos táticos consiste na definição das fontes de estudo.

O programa, em termos conceituais, consiste no objeto de conhecimento a ser intelectualmente apropriado pelo candidato. Em termos concretos, consiste no conjunto de matérias e conteúdos que irão compor o planejamento estratégico da preparação para o concurso público. A definição do programa, em tese, deve decorrer das previsões do edital dos últimos exames para aquela vaga ou aquele cargo almejado.

programa seletivo, por sua vez, trata-se daquele que não contempla necessariamente todas as matérias e conteúdos previstos no último edital. No caso, o candidato adota uma lógica seletiva, no sentido de excluir do seu programa algumas matérias e/ou conteúdos.

Algumas metodologias podem ser adotadas para a estruturação do programa seletivo. Algumas de caráter mais objetivo, como a incidência de conteúdos nas questões das últimas provas, ou subjetivas, como a percepção de importância pelo candidato.

Estabelecidas estas premissas, você pode estar se indagando: mas afinal, vale a pena adotar a lógica do programa seletivo? Quando ouço esta pergunta de algum candidato, costumo responder com a seguinte colocação: “a resposta é um problema estratégico seu!”.

O que quero dizer com esta colocação? Primeiramente que, de fato, se trata de uma questão estratégica da estruturação do planejamento da preparação para o processo seletivo. Mas o aspecto mais relevante é que se trata de uma decisão que pode ser eficiente ou não.

Se na prova o examinador corresponder à expectativa seletiva estabelecida pelo candidato, no sentido de não cobrar as matérias e/ou conteúdos excluídos do programa de estudos, significa que este mesmo candidato adotou uma atitude eficiente, no sentido da otimização de esforços. Porém, caso tal expectativa não se confirme, o candidato arcará com o ônus da decisão inadequadamente adotada.

Os candidatos que já estão há algum tempo se preparando para o vestibular ou concursos públicos, já tendo se submetido a algumas provas sabem muito bem do sentido desta colocação.

Considero que, como em relação a vários outros aspectos da preparação para Processos Seletivos, não é possível universalizar soluções. Cada seleção tem as suas particularidades, ocorrendo o mesmo com cada candidato. Na realidade, o processo de preparação para a seleção não comporta soluções universais, tampouco fórmulas mágicas. Toda atitude terá um preço, quanto ao esforço ou ao resultado. Conforme se costuma sustentar no universo das ciências financeiras, não há almoço grátis!

O fundamental é que se tenha consciência das decisões e atitudes que estão sendo adotadas. Principalmente em termos de avaliações dos grandes “trade-offs” do planejamento da preparação, os quais envolvem custos e benefícios, bem como riscos e retornos.

Bons estudos e tome decisões estratégicas, eficientes e racionais!

Adaptação do texto de Rogerio Neiva